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"Casa assombrada em Alcântara recebe visitas guiadas à noite"

Reza a história que uma casa abandonada, em Alcântara, está assombrada. O Teatro Reflexo viu nela o cenário perfeito para visitas guiadas à noite, uma iniciativa nunca feita em Portugal.

Expectantes, os 16 curiosos murmuram sobre o que os espera antes da visita à casa-fantasma. Sofia e Luís, um jovem casal de namorados, acharam a ideia original e tencionam ser surpreendidos. Não sabem o que os espera, mas «o facto de ser um programa diferente com uma história e mistério associados» desperta-lhes a curiosidade. «Não é romântico, mas é um programa diferente».

E o que leva as pessoas a fazerem visitas durante a noite a uma casa que se diz assombrada? Na sala de espera, que funciona como uma galeria de arte, um grupo de amigos especula sobre as suas motivações. «Vim pelo desconhecido e pela excitação de não saber bem o que é. A ideia é experimentar a sensação do medo entre amigos. sozinha não vinha! imaginei uma casa antiga vazia, uns barulhos, umas almas penadas. o meu marido acredita em fantasmas, eu não». Cépticos ou não, todos vêm pelo medo do desconhecido, o coração a bater abruptamente, os arrepios sempre que se ouve uma história que foge ao convencional.

O casarão antigo, fechado há anos porque ninguém consegue permanecer nele durante muito tempo, vai ser demolido. até que isso aconteça, o proprietário convidou o encenador e director artístico do Teatro Reflexo, Michel Simeão, para dinamizar culturalmente o espaço. «Quando conheci a casa fiquei completamente fascinado. só a casa dá-nos tudo mas, além disso, comecei a ouvir histórias sobre as duas famílias que aqui viveram e soube logo o que queria fazer», conta Michel. A ideia partiu de um conceito existente no Reino Unido e nos EUA, onde se fazem este tipo de programas. Michel teve contacto com esta experiência há seis anos, quando visitou casas assombradas na Escócia. Decidiu manter a casa como a encontrou, sem decorar ou mudar as coisas de sítio, uma vez que já é assustadora o suficiente, oferecendo todo um imaginário fantasmagórico.

Não é a casa do terror da Feira Popular

Um aviso é feito desde logo pelos organizadores, para não equivocar os visitantes. «Isto não é a passagem do terror da Feira Popular». Durante a visita de 70 minutos, não há qualquer tipo de representação, apenas relatos das histórias que lhes chegaram aos ouvidos.

Sem luz eléctrica, apenas com foco, os participantes são convidados a explorar as divisões da casa apalaçada do século XIX, que pertenceu ao Conde da Ponte. No escuro, são relatadas as histórias e acontecimentos paranormais das famílias que habitaram a casa outrora. «Vamos sugestionando as pessoas a pensar noutras coisas para além do universo dos fantasmas. Há todo um universo de energia e fenómenos que não sabemos explicar, mas a nossa mente vai logo para o fantasmagórico», explica Michel.

O grupo quer desmistificar o medo e proporcionar uma experiência diferente, «aliciando as pessoas a fazerem determinadas coisas ao longo do percurso». Os participantes são expostos a situações de maior fragilidade com o intuito de se perceber como reagem à sugestão do medo. «Toda a experiência tem a ver com o tipo de pessoas que cá está, porque o medo é de fácil contágio. Se uma pessoa está ao nosso lado e se assusta, isso também nos vai assustar».

O encenador conta-nos que já houve pessoas que desistiram a meio por estarem altamente sugestionadas. «Há algumas que saem de lá disparadas porque ao mínimo de barulho que possam ouvir, como o estalar da madeira ou um carro a passar, é o suficiente para se assustarem».

Apesar de não acreditar neste tipo de coisas, Michel tem medo de permanecer sozinho na casa. «Não acredito em bruxas, mas que as há, há». Afirma que nunca viu nada mas que há uma coisa que lhe causa impressão. «O cão que anda sempre connosco não sobe para o segundo andar da casa, que é o sítio que dizem que tem uma carga mais pesada. Acredito que os animais têm um poder de sentir essas coisas».

Finda a visita, o grupo que coabitou o palacete cochicha a experiência (des)assombrada que sentiu na pele. Ou não. Cristina confessa que houve um momento em que sentiu medo «porque estava à espera de algo, que não chegou a acontecer». Paulo, que andou a vaguear pela escuridão sozinho, ficou decepcionado consigo mesmo. «Estava convencido que ia ter emoção e não senti nada. Estive a tentar ouvir barulhos e não ouvi nada, que chatice!».

As visitas, que começaram no dia 13 de julho, e acontecem às quartas e quintas-feiras, às 22h00 e às 00h00, já estão esgotadas até ao final do mês, mas poderão ser prolongadas até setembro. Homens e mulheres maiores de 16 anos testam os seus limites, temores e receios nesta iniciativa pioneira em Portugal. «Já fizemos uma sessão para uma despedida de solteira. Foi muito engraçado, houve gritos pela casa toda». Já os homens aparecem sempre com uma «postura de durões». «Quando se assustam há uma defesa muito grande que eles têm de impor e nota-se que se controlam mais para não mostrarem medo às namoradas».


http://www.sol.pt/noticia/26806
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A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a teologia.
(Albert Einstein)